"De vez em quando choro. É bom
chorar. Eu não tenho vergonha, mas em todos os momentos existe a certeza
de ter feito uma escolha acertada, de estar caminhando em direção à
luz. Não nego nada do que fiz, também não tenho arrependimentos ou
mágoas: eu não poderia ter agido de outra maneira — mesmo em relação a
você — levando em conta o quanto eu estava confuso naquela época. Também
já não tenho aquelas queixas infantis, na base do ‘tudo dá errado pra
mim’, ou autopunições como ‘eu sou uma besta, faço tudo errado’. Nada é
errado, quando o erro faz parte de uma procura ou de um processo de
conhecimento. Gosto de olhar as pedras e os desenhos do vento na
superfície da água, gosto de sentir as modificações da luz quando o sol
está desaparecendo do outro lado do rio, gosto de sentir o dia se
transformando em noite e em dia outra vez, gosto de olhar as crianças
brincando no corredor de entrada e das palmeiras que existem no meio da
minha rua — gosto de pensar que vou sempre ter olhos para gostar dessas
coisas, e por mais sozinho ou triste que eu esteja vou ter sempre esse
olhar sobre as coisas. Não sei muito, também não tenho muito, também não
quero muito, mas estou aprendendo a respirar o ar das montanhas."
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